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Genética Canina - Displasia Coxofemoral

31/10/2019

Genética Canina - Displasia Coxofemoral

Hoje vamos falar de Displasia Coxofemoral, texto escrito pela Fabiana Michelsen de Andrade CRBio-03: 110385

"Bióloga, Mestre e Doutora em Genética e Biologia Molecular (UFRGS), com pós- doutorado na Universidade de Newcastle (UK)
(experiência de 16 anos no ensino superior, com disciplinas de Genética Humana e Animal, além de Melhoramento Genético Animal para Medicina Veterinária). Pós-doutoranda no grupo MegaGen (Melhoramento Genético Animal) da UFRGS."

"Em 1998, dois médicos veterinários sem especialização em genética (na verdade ambos trabalhavam com radiologia) publicaram um artigo científico em uma revista nacional de pequena circulação, no qual escreveram que a displasia coxofemoral é “hereditária, recessiva e poligênica”, sem citar qual autor teria classificado a doença desta forma. Desde então esta classificação etiológica é repetida em diversos meios, e consta em diversos sites de canis brasileiros. No entanto, este dado está errado, e não encontra comprovação em nenhuma outra literatura nacional ou internacional.
Em primeiro lugar, vamos determinar corretamente os conceitos etiológicos: não existem “doenças poligênicas”. Qualquer doença descrita até hoje em qualquer espécie, que é determinada por vários genes (=poligênica), é também influenciada por fatores ambientais e, portanto, a classificação correta é MULTIFATORIAL. Por outro lado, doenças que são multifatoriais não podem ser, ao mesmo tempo, recessivas. Uma doença recessiva é aquela causada por um único gene, e a princípio, sem nenhuma influência do ambiente. De forma que afirmar que uma doença possui ambas as etiologias demonstra um completo desconhecimento dos conceitos básicos de genética.
É de grande importância que criadores entendam estes erros, e parem de replicar estes tipos de informação. Veja abaixo porque é importante não cair nesta confusão:
1) se a displasia fosse recessiva, existiria teste genético para determinar qual animal saudável é portador do “gene” mutado, e reproduzindo um casal deste tipo algum filhote sempre desenvolveria a doença (em média, 25% da ninhada a desenvolveria). Além disto, sendo recessiva, somente cães com “ambos os genes” mutados teriam a doença, e reproduzir dois animais com displasia traria 100% dos filhotes doentes. Criadores experientes sabem que nenhuma das duas situações são verdadeiras, e que o teste genético para displasia é um “sonho” de quase todos, mas não existe no mercado.
2) não é porque a doença “pula gerações” que é necessariamente recessiva. Isto também é característica de doenças multifatoriais. Na verdade, na maior parte dos casos cães com doenças multifatoriais nascem de casais normais. Entender a classificação da doença como multifatorial envolve entender que, principalmente, ela é causada pelo somatório de vários genes e vários fatores ambientais. Ou seja: não existe displasia que seja totalmente causada pela genética, nem displasia que seja totalmente causada pelo ambiente (a não ser exceções causadas por traumas). Na literatura científica de qualquer doença multifatorial, o conceito envolve sempre o somatório. Criadores que querem realmente diminuir a doença em suas raças, não podem pensar que a maior parte dos casos de cães displásicos produzidos em seu canil, só possui a doença por causa do ambiente. Pensar desta forma não irá ajudar no problema. Por outro lado, dizer que a displasia sempre tem, em parte, influência genética , não significa “colocar a culpa no criador”, uma vez que é impossível prevenir totalmente o nascimento de filhotes que tenham a displasia. Desta forma, mesmo trabalhando da forma mais adequada (reproduzindo somente cães saudáveis, por exemplo), criadores de raças com a predisposição para a displasia sempre poderão produzir filhotes doentes. Isto é inerente à doença multifatorial.

***Existem formas de diminuir a chance de filhotes desenvolverem displasia. Procure aconselhamento genético para entender como trabalhar desta forma ***

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